O Fado no Porto e na região norte de Portugal

Ao contrário do que se pensa, o Fado existe no Porto desde há décadas, existe de facto uma corrente de pensamento que defende até que o Fado como expressão popular que pode ter derivado das expressões musicais populares praticadas nas feiras, festas, debulhadas ou romarias mais a norte de Portugal: notam-se inclusive semelhanças harmónicas entre as músicas como as chulas, viras ou corridos, mais características e presentes no folclore e o Fado.

Outro aspecto interessante de cariz histórico, é o número significativo de violeiros presentes no norte de Portugal ao longo da história, tendo estes em muito contribuído para o desenvolvimento da guitarra portuguesa como a conhecemos actualmente, bem como a viola de acompanhamento de Fado. De salientar que o modelo mais antigo de guitarra portuguesa é a chamada guitarra do Porto, há quem diga que este modelo faz a ponte entre a guitarra Inglesa e a guitarra mais actual.


Adelino Duvall

A primeira Gravação de Fado foi feita no Porto

O alentejano José Moças, colecionador e responsável pela editora Tradisom, garante ter em sua posse a “primeira gravação de fado conhecida”, feita em novembro de 1900 no Porto. “É um disco de grafonola, de 78 rotações, e faz parte de um conjunto de mais de 80 gravações das quais até hoje se descobriram 67”, conta. “Tenho quatro desses discos, dois deles são fado: o Fado Hilaryo, interpretado por Duarte Silva, e Oh Julia, por José Brito.” O registo foi feito por William Sinkler Darby, engenheiro de som britânico que passou pelo Porto em 1900. “A ligação dos ingleses ao Porto era antiga, por causa do vinho, e talvez isso explique que ele lá tenha ido. Foi uma viagem à Europa continental para divulgar o aparelho que fazia gravações, depois o engenheiro seguiu para Madrid. Ele trabalhava para a Berliner, que mais tarde veio a ser a EMI.”


Adelino Duvall

Casas de Fados e grandes Fadistas nascidos no Porto

São vários os artistas, poetas e músicos de Fado oriundos do Porto como por exemplo Tony de Matos, Beatriz da Conceição, Maria da Fé, Lenita Gentil, Florencia, Pedro Homem de Melo, António Torre da Guia ou Fontes Rocha, são apenas alguns exemplos que espelham a importância não só do Porto mas do resto pais na história da canção nacional que é o Fado. O Fado sempre foi escutado em locais apropriados, como as tabernas, tascas, colectividades e claro as famosas e tradicionais Casas de Fado onde o Fado é tratado com todo o rigor e cerimónia, uma verdadeira celebração.

Nas Casas de Fado é reconhecidamente o local mais apropriado para assistir a uma noite de Fados á moda antiga. Existem uma serie de regras que no Fado não devem ser quebradas: Não há amplificação, silencio é factor determinante, não há serviço durante as actuações, as luzes baixam e não se circula na sala, nem deverá ser interrompido. As actuações acontecem alternadas entre os vários artistas, intercalando com momentos em que decorre o normal serviço de restauração. Como dizia a D. Amalia: o Fado não se explica, sente-se … é consensual que, é nas casas de Fado onde o Fado se sente melhor e onde verdadeiramente acontece. Na verdadeira tradição portuguesa, o Fado sempre aconteceu acompanhado por vinhos e petiscos á luz da vela. De Salientar que foi o Fado característico das Casas de Fado que foi eleito Património imaterial da humanidade. Em 1968, fez se história porque D. Heitor Gil de Vilhena fez um pacto com o fado, surgindo assim a catedral do Fado no Porto, a Casa da Mariquinhas.

A Casa da Mariquinhas situa-se em pleno coração da cidade, no típico bairro da Sé, em frente ao Arco de Santana, imortalizado por Garrett e aos pés da Sé Catedral. Com 52 anos de história este mítico local transpira Fado pelos poros das paredes de granito, por aqui passaram e continuam a passar todos os grandes nomes do fado nacional, que sem microfones, com a maior intimidade e proximidade ao público fazem com que a Casa da Mariquinhas seja o local ideal para apreciar o melhor Fado que pelo Porto se canta e toca, acompanhado pela melhor gastronomia tradicional portuguesa pela mão da Chef. Sandra Santos e pelos melhores néctares do nosso douro. Para quem vem ao Porto é incontornável uma visita a este estabelecimento reconhecido como de interesse histórico e cultural.


Adelino Duvall

O que deve saber antes de ir a um espetáculo de Fado

A cidade do Porto oferece uma variedade de espetáculos e experiências para os que apreciam o Fado. As suas casas, distribuídas pelo coração da cidade, prometem a turistas e residentes o melhor fado tradicional que por aqui se canta.
Seja ao final da tarde com um concerto tradicional, durante o jantar com espetáculos ao vivo ou mesmo durante um espetáculo de Fado Vadio, nestes locais podem ouvir-se os melhores fadistas e guitarristas da cidade.


O Fado deve ser ouvido em Silêncio
Sendo o fado uma experiência essencialmente auditiva, os seus espetáculos devem ser ouvidos em silêncio. O ruído criado pela voz das pessoas durante os espetáculos pode reduzir a qualidade da música e prejudicar na relação intimista que é criada entre o fadista e o público na maioria das casas.
Além disso, o barulho de fundo pode confundir tanto o fadista como os seus guitarristas que criam as melodias. O barulho pode ainda incomodar quem aprecia este tipo de espetáculo em silêncio.


Uso do telemóvel
Apesar do uso do telemóvel ser permitido durante os espetáculos de fado, o público deve confirmar que os dispositivos se encontram em silêncio. Caso pretenda tirar uma fotografia ou fazer uma gravação, certifique-se que o flash está desligado.
O público deve ter em atenção que o uso continuo do telemóvel durante um espetáculo, pode tido como um ato de desrespeito para os fadistas, então devem fazê-lo com moderação.


Bater palmas
Ao contrário do que acontece durante os concertos de música tradicional portuguesa, nos espetáculos de fado não se aconselha que o público acompanhe o fadista com palmas. Este ato pode prejudicar na hora de criar uma relação entre o fadista e o público e confundir os artistas que fazem o ritmo.
Assim, aconselha-se o público a bater palmas apenas no final de cada música para mostrar que está a gostar do espetáculo.


Cantar com o fadista
A não ser que o fadista peça ao público que o acompanhe durante uma música, esta prática é desaconselhada. Isto porque o som do canto do público pode interferir com as interpretações dos fadistas.

Exemplos de Fados e interpretações de música popular portuguesa

O Fado apresenta-se como um estilo musical que retrata a essência, a saudade e os sentimentos do povo português. A sua espontaneidade leva-nos até ao século XIX, numa altura em que as suas músicas se começaram a popularizar pelas ruas de Lisboa. Desde então foram várias as canções e os artistas que se imortalizaram no tempo.
Neste artigo, destacamos alguns clássicos do fado português. Estas quadras continuam a ser interpretadas por fadistas amadores em casas de fado de norte a sul do país e por alguns dos nomes mais importantes da música portuguesa.


1. Povo que Lavas no Rio, de Amália Rodrigues

“Povo que Lavas no Rio” é uma das músicas mais conhecidas de Amália Rodrigues. Escrita pelo poeta Pedro Homem de Mello e com música de Joaquim Campos foi interpretada pela primeira vez em 1964. Depois disso foi cantada por outros nomes da música portuguesa, como António Variações, Mariza e Dulce Pontes.


2.  Ó Gente da Minha Terra, de Mariza

Escrito originalmente por Amália Rodrigues, este poema viria a ser interpretado pela Mariza em 2001. Desde então, a música correu os quatro cantos do mundo e foi interpretado por vários artistas. É uma das músicas portuguesas mais conhecidas nacional e internacionalmente.


3. Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso

“Grândola, Vila Morena” é uma música escrita e interpretada por Zeca Afonso, no final de 1971. Ficou conhecida como o Hino da Revolução de 25 de Abril de 1974, o primeiro passo para o regime democrático português. Ainda nesse ano, Amália Rodrigues deu voz a esta música, dando-lhe o seu toque pessoal.


4. Lisboa Menina e Moça, de Carlos do Carmo

“Lisboa Menina e Moça” é uma música de Carlos do Carmo presente álbum “Uma Canção para a Europa”, lançado em 1976. Depois da morte do fadista em 2021, esta canção foi consagrada a música oficial da cidade de Lisboa.


5. Sei de um Rio, de Camané

É do quinto álbum de Camané, “Sempre de Mim”, lançado em 2008 que sai a música “Sei de um Rio”. Esta canção, uma dos maiores êxitos do cantor, é um misto de memórias e nostalgias, inspiradas num rio.

A Guitarra Portuguesa e os seus Guitarristas

A Guitarra Portuguesa é um instrumento musical de cordas, comummente ligado à história do Fado. Criado durante o final do século XVIII, pouco se sabe sobre a origem deste instrumento musical, já que não existe documentação suficiente que o comprove. Construído em madeira e outros materiais nobres, é constituído por 12 cordas metálicas, divididas em duplas.
A Guitarra Portuguesa pode ser dividida em três tipos - a Guitarra de Coimbra, a Guitarra de Lisboa e a Guitarra do Porto - distinguindo-se essencialmente nas práticas de fabrico. Enquanto a Guitarra de Lisboa é a mais pequena das três, apresenta uma caixa arredondada e cabeça em caracol, a Guitarra da Coimbra é maior, tem uma forma mais aguçada e a cabeça em forma de lágrima incrustada. O formato e a construção da Guitarra do Porto é semelhante à de Lisboa.
Da mesma forma que o Fado se faz com a voz de quem o interpreta, também a soar da guitarra se faz com quem a toca. Deixamos alguns dos nomes mais conhecidos neste meio.


Armando Augusto Salgado Freire

Mais conhecido como Armandinho, Armando Freire é considerado uma das figuras mais importantes da história do Fado. Nasceu em 1891 e aos 14 anos iniciou a sua formação em Guitarra Portuguesa. No mesmo ano faz a sua primeira atuação no Teatro das Trinas, onde começou a sua carreira. Durante a sua vida participou em várias composições, digressões artísticas e interpretações, que acabaram por se tornar clássicos.



Martinho d’Assunção

Martinho d’Assunção nasceu em 1914, em Lisboa. Ainda muito novo estudou música e, em 1927, voltou a sua atenção para a Guitarra Portuguesa. Até então tinha estudado outros instrumentos como a viola, o bandolim e o violino. Durante a sua carreira, tocou em vários palcos nacionais e internacionais, ao lado de nomes como Armandinho, Ercília Costa e João de Mata.


João de Mata

Guitarrista e Poeta, João de Mata tocou ao lado de nomes como Armandinho e Martinho d’Assunção durante a sua carreira. Fez parte do Grupo Artístico de Fado, com quem realizou uma digressão por África. Para além da sua carreira como Guitarrista, foi diretor do Jornal Canção Nacional, entre os anos de 1927 e 1928, e editor e redator do jornal Guitarra de Portugal até ao ano da sua morte.


Jaime Santos

Jaime Santos nasceu em 1909 no seio de uma família humilde. Aos 12 anos já tocava viola, violino e bandolim. Anos mais tarde aprendeu a tocar guitarra portuguesa e iniciou a sua carreira. Ao longo da sua vida tocou ao lado de grandes nomes do Fado, entre os quais Georgino de Sousa (seu sogro), Armandinho, Martinho d’Assunção e Amália Rodrigues.


Raul Nery

Raul Nery estreou-se na Guitarra Portuguesa quando tinha apenas 9 anos de idade. Rapidamente ficou conhecido no mundo da música e chegou mesmo a acompanhar Amália Rodrigues em várias das suas digressões nacionais e internacionais. No auge da sua carreira tornou-se Agente Técnico de Engenharia, profissão que viria a exercer em conjunto com a música. Reformou-se cedo da carreira como guitarrista, mas deixou a sua marca em centenas de gravações de alguns dos nomes mais importantes do Fado.

A História do Fado

O Fado é um cântico popular português que se distingue pelo som poético e o sentimento que transmite.

A sua origem está envolvida por mitos e mistérios, não se sabendo ao certo como surgiu. Sabe-se apenas que apareceu durante o século XIX pelas ruas de Lisboa, no contexto histórico e cultural da época.

As teorias da sua origem surgem essencialmente pelas vivências da época e de outros aspetos factuais. Para uns, surgiu dos cantos do povo muçulmano que outrora viveu em Portugal, para outros inspira-se no Lundum, um canto dos escravos brasileiros que chegou a Portugal através dos marinheiros portugueses, no ano de 1820.

Rapidamente estas melodias e interpretações chegaram a outras cidades através dos estudantes que se deslocavam até às escolas e universidades que frequentavam. Coimbra tornou-se assim um importante pólo   para o Fado mantendo a tradição enraizada na comunidade estudantil.

Normalmente, o fado é cantado por um fadista e acompanhado por uma guitarra clássica e uma guitarra portuguesa. Nos últimos anos, o Fado foi elevado a Património Cultural e Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

O Fado faz-se com os seus fadistas

Mais do que a história e os mistérios ligados ao Fado, o auge deste estilo musical deve-se às vozes e interpretações de quem o recita. São os nomes de artistas que já partiram, aliados aos artistas atuais, que trazem excelência a este estilo tão português.
Entre o misto de emoções e memórias proporcionado em cada momento musical, apresentamos-lhe alguns dos nomes mais conhecidos no Fado Portugueses.


Amália Rodrigues

A muito temos de agradecer a Amália Rodrigues, Rainha do Fado. Entre os anos de 1943 e 1990 atuou em cinco continentes, destacando-se nos Estados Unidos da América, onde participou no programa da NBC Coke Time com Eddie Fisher no ano de 1953. Já nesta altura se apresentou como a primeira artista portuguesa a aparecer na televisão americana.
Para além da música, Amália Rodrigues estreou-se em diversas peças de Revista e no cinema, tendo o Fado sempre presente. Ainda hoje se podem ouvir as suas interpretação, que servem de exemplo para muitos.
Os seus prémios e esplendor levaram-na até ao Panteão Nacional, em Lisboa, onde jaz desde 2001. Entre as suas músicas mais conhecidas destaca-se “Povo que lavas no Rio” um clássico do fado português.


Carlos do Carmo

Outro nome importante do Fado é Carlos do Carmo, filho da fadista Lucília do Carmo, aclamado desde 1963, aquando a sua primeira interpretação do Fado “Loucura” de Júlio de Sousa. Ainda no início da sua carreira, o fadista recebeu várias distinções.
Estreou-se fora de Portugal em 1970 com concertos em Angola, Estados Unidos e Canadá. Em 1976 participou no Festival da Eurovisão que teve lugar na Holanda. Aqui interpretou a canção “Uma Flor de Verde Pinho” de Manuel Alegre que veio a fazer parte do disco “Uma Canção para a Europa”.


Augusto Hilário

Pai do aclamado Fado Hilário, Augusto Hilário teve contacto com o Fado quando chegou a Coimbra, entre 1889 e 1890 para estudar medicina.
Rapidamente as suas interpretações ficaram conhecidas pelo país inteiro. Para além de interpretar poemas dos autores da época, escreveu várias quadras que se imortalizaram no seio da sociedade. Apesar da sua passagem pelo Fado ser curta, a morte do fadista foi chorada por família, amigos, admiradores e conhecidos.


Mariza

Depois de Amália Rodrigues, é o nome mais conhecido do Fado e da música portuguesa a nível internacional. O seu primeiro álbum, Fado em Mim, foi editado em 2001 pela World Connection e chegou a 32 países deixando-a na boca do mundo. Dele sai a sua interpretação da música “Ó gente da Minha Terra”, escrita por Amália Rodrigues.
A partir daí, Mariza continuou a crescer e lançou o seu segundo álbum, Fado Curvo, onde interpreta o tema “Primavera”. Este álbum chega ao 6º lugar da tabela Billboard da World Music.
Desde então, lançou mais cinco discos e marcou presença nalguns dos maiores e mais importantes palcos internacionais tendo colaborado com grandes nomes da industria musical.


Camané

Carlos Manuel Moutinho Paiva dos Santos, mais conhecido como Camané, é um dos nomes mais brilhantes do Fado desta geração. Começou a sua carreira como fadista amador e aos 12 anos, vence o evento anual “Grande Noite do Fado”, onde ao longo dos anos participaram nomes como Marina Mota, Anabela Pires, Raquel Tavares e Ricardo Ribeiro.
A participação neste evento abriu-lhe portas na área da música, incluindo a participação em várias peças de Filipe La Féria. Em 2000, ganhou um disco de prata pela venda de 10 mil exemplares do seu 3º álbum. No ano seguinte ganhou o segundo disco de prata, apenas três semanas depois de lançar o seu 4º álbum. Por sua vez, o 5º álbum do fadista recebeu um disco de ouro.
A carreira de Camané continua a ultrapassar fronteiras, pisando alguns dos mais importantes palcos internacionais.


Alfredo Marceneiro

Alfredo Marceneiro marcou a sua geração de Fado. Começou a cantar por volta de 1905, quando tinha apenas 13 anos e rapidamente ficou conhecido pela sua música e improvisos.
Participou em festas e cegadas até 1924, ano em que participou no Teatro São Luiz e ganhou uma medalha de Prata. Reformou-se em 1963, no mesmo local que o viu ganhar um prémio, mas nem por isso deixou de cantar.
Desta época, fica o seu álbum “The Fabulous Marceneiro” considerado pela Blitz como um dos melhores discos portugueses de sempre.
A 10 de junho de 1984, anos depois da sua morte, é-lhe atribuída a Comenda da Ordem Infante D. Henrique pelo General Ramalho Eanes, até então Presidente da República.

Fado – Património Imaterial da Humanidade

Declarado como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO, o Fado tornou-se a 27 de novembro de 2011 a primeira expressão artística portuguesa a ser reconhecida por esta instituição organizacional.
A Candidatura surgiu em junho de 2010, através de uma iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa e do Museu do Fado, para valorizar este estilo musical tão português. Esta viria a ser aprovada um ano depois na VI Comité Intergovernamental da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, que teve lugar em Nusa Dua, na ilha indonésia de Bali.
Esta distinção veio enaltecer o fado enquanto tradição e expressão da identidade cultural do país, contando com nomes como o de Mariza e Carlos do Carmo como embaixadores.

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